É fato que o trabalho remoto traz muitos benefícios para os colaboradores e para as empresas, como a redução de horas perdidas com deslocamento, a possibilidade de flexibilizar horários, o melhor equilíbrio entre rotinas profissionais e pessoais, a redução de custos operacionais e maior produtividade do time.
Mas, é engano pensar que a simples adoção a esse modelo de trabalho vai garantir maior flexibilidade e bem-estar às equipes. Afinal, se existe uma sobrecarga, um excesso de cobrança, vigilância extrema, o home office passa longe de um modelo de trabalho flexível e saudável.
O ponto chave é entender que os bons resultados não são alcançados somente com a adoção ao home office. É preciso adotar práticas voltadas ao bem-estar de quem está trabalhando, que vão além da simples possibilidade de trabalhar de forma remota.
Investir no bem-estar dos colaboradores que trabalham remotamente não é apenas uma questão de retenção, mas também de competitividade no mercado. Empresas que implementam práticas para cuidar da saúde mental e física de suas equipes se destacam em inovação e atraem os melhores profissionais. Em um cenário onde o trabalho híbrido e o full remote ganham força, essas práticas são diferenciais essenciais.
Como incentivar o bem-estar no trabalho remoto?
Ofereça autonomia e flexibilidade
A essência do trabalho remoto é proporcionar maior autonomia e flexibilidade, eliminando a necessidade de estar presente para realizar suas tarefas. Para que isso aconteça de forma eficaz, é preciso incentivar os colaboradores a fazerem a autogestão de tempo e tarefas, permitindo que gerenciem seus próprios horários e definam suas prioridades, considerando os prazos das entregas a serem feitas.
Oferecer essa autonomia e flexibilidade ajuda a aumentar a satisfação e o engajamento do colaborador. Um estudo recente da Gartner indica que empresas que promovem maior autonomia veem um aumento de 20% na produtividade e uma redução nas taxas de burnout. Além disso, essa flexibilidade permite que os colaboradores moldem suas jornadas conforme suas necessidades pessoais, gerando um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal.
Estabeleça uma comunicação transparente e horizontal
Ter uma comunicação transparente e eficaz também contribui para o bem-estar no trabalho remoto. Isso passa por definir canais de comunicação adequados, eliminar processos burocráticos de interação entre diferentes setores, construir uma comunicação horizontal -sem hierarquia.
Além disso, criar uma cultura de feedback frequente, onde os colaboradores se sintam à vontade para compartilhar dificuldades e conquistas pode contribuir muito para o bem-estar. Ferramentas como Slack ou Teams podem ser usadas para manter a comunicação fluida, mas é a cultura de comunicação transparente que faz a diferença.
Incentive pausas e atividades físicas
Trabalhar de forma remota pode criar uma sensação de obrigação de estar sempre disponível, o que muitas vezes leva à sobrecarga e ao esgotamento. Essa sensação também é reflexo de uma cultura de controle que ainda está enraizada em muitas empresas, em que gestores buscam controlar o “status” de quem está trabalhando e verificar exageradamente o andamento de suas tarefas.
Para evitar isso, uma ótima solução é incentivar pausas regulares e a prática de atividades físicas. Sessões de alongamento, caminhadas curtas e até mesmo pausas para café podem ajudar a manter o foco e a saúde mental dos colaboradores.
Um estudo da American Psychological Association aponta que trabalhadores que fazem pausas regulares são 46% mais produtivos e conseguem manter a concentração por mais tempo.
Ofereça apoio psicológico e programas de bem-estar
A saúde mental é uma questão crítica no mercado de trabalho atual, especialmente no modelo remoto.
Uma pesquisa da McKinsey & Company, realizada em 2022, revelou que 60% dos trabalhadores relatam que a saúde mental é uma prioridade ao escolher entre ofertas de emprego. O estudo também mostra que o trabalho remoto ou híbrido pode agravar problemas de saúde mental, como isolamento e esgotamento, com 28% dos trabalhadores remotos afirmando que enfrentam desafios de saúde mental com mais frequência do que aqueles que trabalham presencialmente.
Para evitar que isso aconteça com seus colaboradores, é importante que a empresa ofereça suporte psicológico por meio de sessões de terapia online, programas de mindfulness ou mesmo aplicativos de meditação. Essas práticas são muito úteis para reduzir o estresse e melhorar o bem-estar geral.
Tenha uma boa cultura organizacional
A cultura organizacional desempenha um papel fundamental na criação de um ambiente de trabalho saudável, especialmente em equipes remotas. Uma cultura forte e positiva promove um sentimento de pertencimento e apoio entre os colaboradores, mesmo que não estejam fisicamente presentes. Alinhar essa cultura em equipes remotas pode ser mais desafiador, mas é essencial para garantir o bem-estar.
Isso pode ser alcançado com políticas de reconhecimento e valorização dos colaboradores e rotinas que fortaleçam essa conexão, como check-ins semanais e encontros online mais informais, onde as trocas fluam para temas além do trabalho.
Para saber mais | O trabalho remoto é para todo mundo?
A cultura de controle e o bem-estar no trabalho remoto
Um dos maiores inimigos do bem-estar no trabalho remoto é a cultura de controle, onde gestores sentem a necessidade de monitorar constantemente os colaboradores para garantir que estão trabalhando. Esse tipo de abordagem, além de ser exaustivo para os gestores, contribui para prejudicar a confiança entre a equipe e criar um ambiente de atrito, onde os profissionais se sentem vigiados e sobrecarregados.
Para combater isso, é importante que as empresas adotem um modelo de gestão baseado em resultados, e não no controle das atividades diárias. O foco deve estar no cumprimento de prazos e na qualidade das entregas, e não no tempo que o colaborador passa conectado.
A transição da cultura de controle para uma cultura de confiança também envolve a capacitação dos gestores para liderar equipes remotas de forma eficaz, dando a eles ferramentas para delegar responsabilidades e oferecer apoio sem recorrer ao microgerenciamento.
“Para o trabalho remoto funcionar é preciso incentivar autonomia, autogestão de tempo e tarefas e autorresponsabilidade. É improvável que os colaboradores performem a contento em um ambiente regido pela desconfiança. Diante disso, pode ser que tenha surgido ainda um outro debate: o trabalho remoto é para todo mundo? Provavelmente, não. Mas, se estamos falando de profissionais responsáveis e adultos, esse crivo não poderia ser pessoal? Será realmente necessário o papel de um gestor que determina qual modelo funciona melhor para cada indivíduo?
Em mais de seis anos como empreendedora, o que eu posso afirmar, com absoluta certeza, é que o controle não vai te garantir sucesso. Pelo contrário, o microgerenciamento te levará à exaustão física e mental. Já a liberdade e flexibilidade irão te ajudar a construir uma relação mais saudável com você mesmo no trabalho e ainda mais com as pessoas que estão ao seu lado, ajudando a desenvolver o seu negócio. Confiança muda o jogo.”Marina Vaz, CEO da Scooto.
Como controlar sem controlar? | Marina Vaz no Estado de Minas