Não, nós não somos uma família

Gabriela Ioshimoto, CPO da Scooto, mostra como a percepção de família, no ambiente profissional, pode ser prejudicial para as relações de trabalho.

Aqui somos uma família

 

Foi essa a frase que saiu de uma pessoa bem intencionada para o grupo da empresa. Mas, a verdade é que não somos, apesar de sermos bem legais.

Política, empresa e esporte são alguns núcleos da sociedade que se apegam ao termo “família” como modelo de instituição ideal que traz um sentimento de pertencimento, de grupo bacana, que se conecta, que se dá bem, com quem podemos contar de forma vitalícia, leal, quase que incondicional.

Mas, você e eu temos família e sabemos que, se não fosse a genética ou comprometimento legal de cuidar do outro, já teríamos “despedido” muito parente por aí. Essa relação pode ser um fardo e motivo para muitas sessões de terapias. Já pensou se a gente pudesse fazer um distrato com o tio mala?

“Prezado tio Tonhão, 

lamentamos profundamente, mas, após seus posicionamentos nos churrascos de família, das piadas de mal gosto, das críticas à maionese da tia Lili sem trazer soluções, decidimos que você está desalinhado com a família.

Além disso, você não coopera na organização do churrasco e sua obsessão por futebol não agrega em nada e, muitas vezes, é motivo de discussões. Mas, não nos interprete mal, é coisa de família. 

Cordialmente, os Silva” 

Se por um lado temos a aleatoriedade genética que direciona a parte física e comportamental de um parente que sempre terá um vínculo familiar com você (independente se gosta ou não dele); por outro, numa empresa, temos o processo seletivo constituído pelo “sim” tanto do candidato que escolheu a empresa para trabalhar, quanto da empresa que identificou boas qualidades naquele candidato. 

As interações organizacionais podem ser encerradas a qualquer momento por ambas as partes e por diversos motivos. O relacionamento entre contratado e contratante não se mantém por causa de amor e lealdade. É uma troca com combinados, desde produção, entregas e dinheiros. E está tudo bem se esse relacionamento não fizer mais sentido para uma das partes envolvidas. O término desse contrato não é traição.

Não podemos cair na armadilha de um sentimento exagerado de lealdade “familiar”. A idealização da lealdade infinita pode nos jogar na vala do relacionamento tóxico (eu sei…essa expressão já está saturada, mas cabe aqui) e servidão.

Diante disso, é importante perguntar com honestidade: Será que é positivo a gente se enxergar, de fato, como uma família no ambiente de trabalho? 

Ao contrário do que se acredita, para vivermos em um ambiente organizacional saudável é importante lembrar que, por mais incríveis que sejam as pessoas com as quais trabalhamos, elas não são a nossa família e, acredite, isso é bom para todo mundo.

Gabriela Ioshimoto, CPO da Scooto.

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